terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Angola - O Tigre Africano?

Algum tempo atrás saiu uma notícia afirmando que Angola, um país africano arrasado pela fome e guerra até 9 anos atrás tinha sído praticamente o recordista em crescimento econômico na última década; a economia do país teria crescido acima dos 10% ao ano. Até 2002, Angola vivia uma complicada guerra civil que ocorria praticamente desde a independência do país de Portugal, em 1975.

Comum em países africanos, várias tribos inimigas disputavam o poder em um território composto por várias etnias diferentes... nessa época, a maioria dos portugueses já haviam abandonado a ex-colônia. Com o fim de guerra civil, que deixou pelo interior da nação varias minas terrestres que fazem vitimas até hoje, abriu-se caminho para o investimento estrangeiro, Angola é muito rica em petróleo. Estados Unidos, Portugal, Brasil e principalmente a China, viram no país uma possibilidade de investimento muito lucrativo... São construídos novos prédios comerciais, condomínios e mais condomínios fechados para abrigar os profissionais que vêm de outros países para trabalhar na coordenação do setor petrolífero e de construção, enquanto os habitantes africanos majoritariamente fazem os serviços que pagam mal, na base da hierarquia. Não que não haja uma elite e uma classe média nativa em ascensão, com angolanos de fato melhorando socialmente, mas nesses condomínios citados, por exemplo, a segregação fica bem clara. Os chineses têm seu espaço próprio, onde só estes podem viver ali.. em geral o tamanho de suas casas variam com o cargo ocupado, existindo também um refeitório para todos que habitam o local, onde da mesma forma trabalham apenas profissionais chineses. Com os funcionários norte americanos ocorre o mesmo, vivendo em condomínios murados só deles.

Por enquanto, praticamente só a capital do país, Luanda, viu uma grande transformação no seu espaço urbano; por lá surgem novos e modernos edifícios - inclusive a empresa brasileira Odebrecht vem investindo pesado em Angola -  os carros circulando são, em geral, modernos, aparecem novos projetos de shoppings centers e um estágio de futebol de primeiro mundo, além desses condomínios de classe média citados, sendo eles de estrangeiros ou não. Apesar disso, até então, pelo menos 60% - talvez mais - da cidade seja composta de favelas e o nível de violência é bastante acentuado, num país que agora vê o nascimento de novas classes mais abastadas com a maioria da população ainda vivendo na pobreza.

De qualquer forma, hoje Angola é a terceira economia lusófona - de países que falam português - depois do Brasil e Portugal... sendo uma nova fronteira inclusive para brasileiros formados no ramo da engenharia e do petróleo, garantindo-lhes excelente remuneração. Nos resta esperar para ver a situação de Angola em 10 ou 20 anos caso o país mantenha seu crescimento econômico entre os maiores do Mundo, sendo maior que o crescimento atual dos Tigres Asiáticos. Atualmente, a maior parte da população ainda vive na pobreza e miséria, mas com as transformações poderemos ver até uma abertura democrática do país, que é governo pelo mesmo ditador desde 1979, uma ascensão social considerável - apesar dos estrangeiros abocanharem uma parte disso - e, infelizmente, um provável aumento da desigualdade social.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O virtual que transforma as relações concretas

Já estava a algumas semanas - como até citei numa postagem anterior - com vontade de criar um tópico pra falar especificamente de assuntos voltados ao universo da internet e da inclusão digital e claro, fazendo um paralelo para os temas costumeiramente abordados pelo blog. 

Primeiro, gostaria de destacar como os laços de amizade e relacionamentos amorosos estão se construindo no mundo da web, mundo que até 1995 praticamente não exisitia ou se limita a um grupo muito específico da população. A internet explodiu com uma velocidade absurda e mudou a configuração da sociedade moderna, suas formas de relação e organização. Estava vendo o programa "Entre aspas" no Globo News dia desses e me deparei com uma discussão que tem muito a ver com isso, num campo até mais amplo. A internet, através de pc's, mensagens de celulares e outros aparelhos de comunicação relativamente recentes está mudando e tornando muito mais veloz a forma de se fazer revolução e mudar histórias políticas de países. 

Um exemplo extremamente recente é o Egito...  foi através de sites de relacionamento como o Facebook, twitter e programas como o Msn possibilitando uma troca extremamente rápida de informações pelo país que foi muito mais fácil em pouquíssimo tempo inserir ideologias e organizar e promover protestos com um número muito grande de manifestantes que depois de 18 dias sangrentos derrubaram o presidente e ditador a 30 anos no poder, Hosni Mubarak. É claro que toda moeda tem dois lados, e a partir da internet fica bem mais fácil ao governo rastrear e perseguir os opositores. Mas...a troca de informações rápidas virtualmente é uma arma muito mais poderosa que qualquer ditador de meados do século XX poderia ter contra ele. Não adianta nem tentar cortar tudo isso, como fez o governo egípcio ao acabar com os sinais de celular e de internet: primeiro por que o circo já estava pegando fogo e a ideologia revolucionária já tinha sido espalhada entre a população, segundo por que existem maneiras de burlar virtuamente todos as barreiras colocadas pelo governo - dando o exemplo colocado pelo especialista no programa - como via telefone, através de uma ligação internacional, estabelecendo assim uma conexão através de outro país. Por tais motivos, um processo de revolução que antigamente duraria meses, hoje dura apenas 18 dias ( e com muita relutância do presidente em sair, pois na Tunísia ocorreu o mesmo e o outro ditador arrumou as malas em menos tempo ainda )...

O fato é que a partir de agora, com o Mundo mais globalizado do que nunca e a troca de informações acontecendo entre os quatro cantos do planeta em tempo real, fatos como esse vão se tornar cada vez mais frequentes, facilitando um pouco mais os governos de achar seus opositores ( o que também não será fácil, pois estamos falando de milhares de pessoas ), mas também colocando o povo numa ligação de intensidade jamais vista e propiciando revoltas populares de resultados muito mais rápidos e mudanças históricas cada vez mais intensas em espaços de tempo cada vez melhores. 

A internet mudou completamente a história, fazendo dela algo muito mais rápido, fazendo cada único mês ou ano ter uma riqueza de fatos relevantes muito maior que outrora... A internet e toda a tecnologia que temos hoje. As guerras são outro exemplo.. O conflito no Iraque ainda existe, mas a guerra oficialmente como acontecia antes, com bombas e batalhas entre exércitos que começou em 2003 se deu em apenas 3 meses. Foi preciso apenas 3 meses de Guerra para que os EUA dominassem totalmente o Iraque. E haja vista também a capacidade de destruição bélica atual, fica bem claro que numa outra eventual guerra, tudo ocorreria num processo extremamente rápido e de igual destruição que se dava antes em alguns anos ou décadas. O mundo ficou pequeno para as capacidades humanas atuais, a aviação cada vez mais se expande e atinge recordes de passageiros no decorrer dos anos, trêns de alta velocidade percorrem países continentais como a China e continentes inteiros como a Europa a 400 km/h. Nenhum lugar é longe demais, nenhum governo é impossível de ser derrubado.... 

Isso que é o interessante do mundo moderno em que vivemos, cada indivíduo tem uma participação muito maior na sociedade, qualquer um pode ser celebridade, é só colocar um video no youtube ( kkkkk ), nos resta agora usar todas essas novas ferramentas para promover a melhoria da sociedade, sanando questões relevantes e buscando o bem comum, pois tudo tem dois lados.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

"Entre les murs", vencedor do Festival de Cannes ( 2008 )


Ontem tava meio de bobeira no pc quando lembrei de um filme que estava na pasta de downloads mas que ainda não tinha visto. "Entre les murs" ou Entre os muros da escola, na tradução para o português, é um filme francês que conta um pouco da realidade de alunos, pais e professores em numa escola de um subúrbio pobre de Paris. Ali estudam árabes do norte da África, africanos negros, chineses e franceses brancos, uma mistura étnica que vem caracterizando muitos bairros de menor renda da capital francesa nas últimas décadas. 


É interessante como o filme aborda conflitos e mazelas  passadas ali dentro. Alunos filhos de imigrantes que pouca perspectiva têm para si, não gostam da instituição escolar, são contra regras e métodos de aprendizado, fazendo-se uma indagação através das cenas e diálogos do que realmente deve ser ensinado. Na verdade, quando os alunos diziam que aprenderam algo ao professor e este perguntava para que serve o que aprenderam, a resposta era: "Sei lá, mas se a escola ensinou, deve servir pra alguma coisa". Outra coisa que deu pra notar foi o choque cultural presente na França contemporânea, com alunos vindos de famílias tribais africanas ou de regiões de cultura muçulmana. Suas famílias são muitas vezes desestruturadas e não falam francês fluentemente, ficando difícil até conversar com pais de alunos em uma reunião de pais.

O desinteresse, na verdade, impera na maioria das escolas do Mundo de países pobres ou ricos, com alunos problemáticos pois sua família não dá suporte e a escola é a válvula de escape. Alunos são expulsos de instituições, mas para onde vão? Para escolas piores ou param de estudar... literalmente há perda de cerébros. Casos de bullying vão ficando cada vez mais freqüentes e não há qualquer apoio institucional, a maioria dos professores e coordenadores fazem vista grossa. Então aí vai a minha crítica: Será que não era hora de remodelar tudo isso? Conciliar disciplinas indispensáveis com tarefas de interação que atraiam o aluno e lhes disperde mais o interesse e a criatividade. O ideal seria que as aulas fossem mais um seminário do que simplesmente despejar informações, trocar informações é muito mais produtivo e foi o que fez o homem progredir nesses milhares de ano de evolução. Enfim... o assunto é muito mais complicado e discutível para ser resumido numa postagem de blog, mas recuperar um aluno que vem de um histórico tão desestruturado e de uma vivência de sofrimento é muito mais complexo do que simplesmente lhe ensinar português, matemática, história e geografia. 

Cabe as escolas saber qual é o seu verdadeiro papel... formar cidadãos? Selecionar cérebros bons e ruins? Recuperar e demonstrar valores sociais que a família não ensina? É complicado, professores não são super heróis, mas a sociedade e o estado tem que se fazer presente onde impera a desordem social, começando no berço.. pois é a partir da escola que se muda toda uma ordem, a Coréia do Sul está aí para nos provar isso. Caso contrário, o efeito é multiplicador e pode ser desastroso para a própria sociedade.